Fonte: Embrapa
O município de Canarana, no Mato Grosso, responde sozinho por mais de 80 da produção nacional de gergelim, com uma área plantada de 50 mil hectares nesta safra, segundo estimativa dos produtores. A cultura vem ganhando espaço como segunda safra, após o cultivo da soja, por ter baixa necessidade hídrica e ser de fácil manejo. Para debater sobre os desafios dessa cultura em expansão no estado, produtores, exportadores, pesquisadores, técnicos e autoridades do setor se reuniram no último dia 8 de maio, na sede do Sindicato do Produtores Rurais de Cananara.
Em pauta, questões como produção de semente, desenvolvimento de novas cultivares, melhorias no sistema de produção atual e formulação de parcerias para a pesquisa.
Durante o encontro, a pesquisadora da Embrapa Nair Arriel apresentou os resultados mais recentes da pesquisa sobre gergelim, com destaque para a cultivar BRS Anahí, que tem hábito de crescimento ramificado para facilitar a colheita mecanizada e alta produtividade. “Uma das cultivares que tem despertado bastante interesse dos produtores da região é a BRS Anahí, cultivar de haste única com crescimento não ramificado, com uma produtividade em torno de 1.600 quilos por hectare, a coloração do grão é branca, muito aceita no mercado de panificação quanto para a exportação. A cultivar tem mostrado uma ótima adaptação em Canarana e maior produtividade em relação às demais variedades plantadas na região”, afirma.
A pesquisadora também levantou as demandas de pesquisa para o cultivo da cultura em larga escala. “O gergelim tem avançado bastante em Canarana, mas ainda temos muito trabalho a fazer, por exemplo, a definição da quantidade ideal de sementes por hectare, indicação de produtos para o manejo da cultura, que ainda não são regulamentados pelo Ministério da Agricultura, levantamento dos custos de produção, desenvolvimento de novas cultivares com maior precocidade de retenção das sementes, entre outros”, elenca.
O produtor de sementes Leandro Lodea, da LC Sementes, defendeu a necessidade de criação de um fundo para pesquisa em gergelim. “Um pouco de investimento em pesquisa significa muito dinheiro na frente, significa evitar prejuízos. Primeiro, precisamos pesquisar em pequenas áreas para depois ampliar a produção com segurança e poder exportar um material de qualidade”, afirma.
Para o presidente do Sindicato Rural de Canarana Alex Wisch é preciso tratar o gergelim como uma cultura para obter bons resultados em campo. “Com pequenos ajustes no nosso sistema de produção nós já chegamos a 1.500 quilos por hectare em alguns talhões, mas temos muito ainda a evoluir nos tratos culturais”, declara.
O técnico da Empaer-MT Gildomar Avrella enfatizou a importância de sementes de qualidade para aumentar a produtividade. “Hoje nós temos muitas sementes fracas, se quisermos elevar a produtividade, temos que elevar a qualidade da semente”, diz. “Também é preciso validar as informações de pesquisa em campo para fazer as recomendações ao produtor, atualizar o Zoneamento Agrícola (ZARC) e buscar financiamento para a cultura. O gergelim tomou o espaço do milho, mas ainda não existe financiamento para o gergelim”, acrescenta.
Também presente ao evento em Canarana, o presidente do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), Marcelo Lüders, avalia que este é um bom momento para as culturas especiais (pipoca, amendoim e gergelim) e para os pulses (lentilha ervilha e grão de bico). “Os produtores necessitam de culturas alternativas ao milho e à soja Há uma demanda mundial crescente para esses produtos. O Brasil mal começou a oferecer e já começa a aparecer demanda dos outros países por esses produtos”, analisa. “O gergelim vai continuar tendo demanda crescente. O óleo de gergelim e outros alimentos elaborados a partir dele não é um mercado pequeno, é um mercado de alto valor agregado e com demanda seja para a África, Ásia e mundo árabe. Nós entendemos que é um produto que vale a pena os produtores saírem da sua zona de conforto e começar a aprender a produzir, assim como a pesquisa, oferecer novas soluções e aprender junto com os produtores. Esse esforço vale a pena. É estar no lugar certo na hora certa. O mundo tem demanda por alimentos e por gergelim também”, conclui.
A maior parte do gergelim produzido em Canarara vai para o mercado externo, por isso, o encontro atraiu a atenção de diversos representantes de empresas exportadoras de gergelim de várias regiões do país. Alex Luviseto, gerente do departamento comercial da Agrícola Ferrari, com sede no Rio Grande do Sul, informou que no ano passado a empresa exportou mil toneladas de gergelim e as vendas da empresa devem acompanhar o crescimento da produção. “A nossa meta para este ano é chegar a 12 mil toneladas de gergelim exportadas”, revela.
O secretário de Agricultura de Canarana Charles Visconti informou que a cada safra a cultura do gergelim vem tomando espaço do milho no município, que reivindica o título de capital nacional do gergelim. “A nossa produção de gergelim dobrou na última safra e com a parceria de todos essa cultura só tende a crescer ainda mais”, declara.
Ao final do encontro, os participantes acordaram a elaboração de um plano de trabalho para pesquisas com gergelim em Canarana, sob a liderança da Embrapa e Empaer-MT, com a participação dos produtores.
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