Texto produzido por Embrapa
Na quinta-feira (28), a Rede ILPF realizou uma Reunião Técnica sobre Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) que reuniu no Hotel Ecologic Ville Resort, em Caldas Novas (GO), produtores rurais e consultores técnicos convidados, além de representantes das empresas que compõem a Rede. O encontro antecedeu o Dia de Campo sobre ILPF realizado na sexta-feira (29), na Fazenda Santa Brígida (Ipameri/GO) (leia aqui).
“A gente conseguiu desenvolver uma agricultura baseada em ciência e o Brasil precisa se orgulhar disso, pois é para poucos países do mundo”, afirmou durante a Reunião Técnica o representante da Embrapa na Rede ILPF, Renato Rodrigues, pesquisador da Embrapa Solos e presidente do Conselho Gestor da Rede.
Ele destacou na ocasião a publicação recém lançada pela Embrapa “Agricultura movida à ciência” (acesse aqui).
Segundo o pesquisador, nas últimas quatro décadas, o Brasil aumentou quatro vezes a produção de grãos, com a expansão de apenas 66% da área plantada. Além disso, o rebanho do país também cresceu mais de 100%, com diminuição relativa da área de pastagem. “Isso não aconteceria sem o empreendedorismo e a força de vontade dos produtores e o trabalho de todas as instituições públicas e privadas que atuam em conjunto para chegar num resultado como esse”.
O pesquisador repassou informações sobre a construção que vem sendo feita no Brasil de uma política pública de baixa emissão de carbono. “A partir dos compromissos internacionais assumidos pelo país foi criada a política nacional de mudança do clima e planos setoriais de mitigação e adaptação para vários setores da economia, como o plano ABC”, afirmou. Segundo ele, hoje há uma conjuntura positiva a transformações. “Temos tecnologia, conhecimento, vontade dos produtores e todo um cenário favorável a essa mudança de comportamento que vai trazer mais renda para o produtor e mais riqueza para o país”.
Segundo o especialista da Embrapa, as ações do Plano ABC (baixa emissão de carbono, leia aqui mais informações) foram estabelecidas até 2020. Depois disso, o Brasil optou por focar em duas ações específicas: recuperação de pastagens degradadas e ILPF. “Essas foram as duas tecnologias que o país acredita ser mais eficiente para o cenário pós 2020. A ideia é fazer uma intensificação sustentável do uso do solo convertendo pastagens degradadas em ILPF. Queremos transformar 20 milhões hectares de pastagens degradadas em ILPF em 10 anos”, contou.
O pesquisador pontuou também alguns resultados de pesquisa da Embrapa relacionados com os diversos modelos de integração lavoura, pecuária e floresta. “Dentro do sistema ILPF temos uma redução de 20% do consumo de água e aumento de assimilação de carbono no solo de 10 a 30%”. Ele destacou, ainda, um dado que faz referência à redução da quantidade de metano emitida dentro do sistema. “Na pecuária convencional, emitimos 11,6 quilos de metano para cada arroba produzida. No sistema ILPF 1,5 quilos. É uma diferença de eficiência muito grande”, avalia.
Rentabilidade – de acordo com o pesquisador da Embrapa, quando o produtor rural sai do sistema tradicional e passa para a ILPF ele aumenta, no mínimo,15% sua rentabilidade. A experiência do produtor rural Juliano Antoniolli, da Fazenda Platina, localizada no município de Santa Carmem (MT), vai além. Segundo Antoniolli, após a inserção da integração eles conseguiram triplicar a produção bovina da fazenda. Em uma área de 2.430 hectares, 60% são destinados à bovinocultura de corte e 40% à plantação de soja. O rebanho da fazenda é de cerca de quatro mil animais e a produtividade chega a 22@/ha de boi gordo.
O produtor Juliano Antoniolli participou de um dos painéis da reunião técnica ao lado de outros produtores rurais que estão se destacando na condução da integração em suas propriedades. “A tecnologia ILPF veio para ficar, é um caminho sem volta, após a instalação da integração numa propriedade, se bem sucedida, traz resultados a curto prazo, tanto no âmbito financeiro quanto no agronômico”. Para ele, a diversificação de renda é o grande ganho da tecnologia. “Hoje 100% da nossa área produz o ano todo, se não estamos produzindo soja, estamos produzindo carne”, contou.
A fazenda Platina foi uma das primeiras a adotar o sistema ILP no Mato Grosso – iniciaram em 2000 a integração com arroz e, em 2004, com soja. Antes disso era uma fazenda de pecuária degradada. “A integração contribuiu com o aumento da produção de carne e, de quebra, trouxe uma nova atividade que foi a produção de grãos. A cada ano esse processo nos desafia a melhorar, pois pequenos detalhes fazem a diferença”, afirma. Por conta disso, segundo ele, é necessário profissionalismo do produtor para se manter no sistema e melhorá-lo a cada safra. “Temos sempre que mensurar os custos de produção com critérios que irão direcionar o futuro de cada propriedade rural”.
Com relação à Reunião Técnica, o produtor destacou que se sentiu honrado em ter sido convidado a participar. “É uma forma de mostrarmos um pouco do nosso trabalho no norte de Mato Grosso, foi uma oportunidade de trocar experiências e conhecer pessoas que fazem parte desse sistema e querem melhorar a cada ano. Acredito que todos que estiveram no evento voltarão melhores do que vieram”. Também apresentaram na Reunião Técnica suas experiências na condução dos sistemas integrados Fernanda de Sousa, da Fazenda Morro do Peão (Urutaí/GO) e Willian Matté, da Fazenda Alvorada e Brejão (PADF-DF).
Nova etapa – a Reunião Técnica foi promovida pela Associação Rede de Fomento ILPF. Trata-se de uma parceria público-privada que busca acelerar a adoção de sistemas integrados como parte de um esforço visando à intensificação sustentável da agricultura brasileira. Ela é formada pela Embrapa, pela cooperativa Cocamar e pelas empresas John Deere, Syngenta, Bradesco, Ceptis, Soesp e Premix.
O presidente da John Deere no Brasil, Paulo Hermann, contou durante a reunião em que contexto foi criada a Rede ILPF. “Há sete anos, quando nos deparamos com essa pesquisa que estava sendo conduzido pela Embrapa, percebemos que tínhamos um diamante nas mãos, mas que não estava chegando na ponta para os agricultores. Por isso, resolvemos criar a Rede”, contou.
Segundo Hermann, a Rede deve iniciar a partir de agora uma nova etapa de atuação. “Além da pesquisa, queremos qualificar multiplicadores para dar assistência aos produtores”. Ele também informou que a parceria estuda uma forma de certificação das propriedades que implantarem a ILPF, a fim de agregarem valor a seus produtos. “A ILPF é o nosso grande instrumento para mostrar que é possível produzir e preservar. Trata-se de uma tecnologia séria e responsável e por isso temos tanta paixão e entusiasmo em defender”.
A Reunião Técnica contou ainda com uma palestra do secretário-adjunto de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Pedro Correa Neto, que tratou da segunda etapa do Programa Rural Sustentável. E do Superintendente de Agronegócios do Bradesco, Rui Rosa, que abordou as principais linhas de crédito disponíveis aos produtores que desejam implantar a ILPF em suas proriedades.
Ao final do evento, a Rede ILPF homenageou o presidente da John Deere no Brasil, Paulo Hermann, o presidente do Conselho de Administração da Cocamar, Luiz Lourenço, e o pesquisador da Embrapa Lourival Vilela, por seu protagonismo nas pesquisas voltadas aos sistemas de integração. As pioneiras na criação da Rede ILPF foram a Embrapa, cooperativa Cocamar e as empresas John Deere e Syngenta.
Mais informações sobre a Rede ILPF acesse http://www.redeilpf.org.br/
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