Fonte: Embrapa
Realizar um estudo socioeconômico da cadeia produtiva da borracha brasileira, colocar novos clones no mercado, mais produtivos e eficientes, além de desenvolver outras tecnologias para o sistema de produção são fundamentais para fomentar o cultivo da borracha natural no Brasil. Esses foram os temas tratados entre a Embrapa e o presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Borracha Natural, Fernando do Val Guerra , durante reunião realizada no dia 23 de maio. Val Guerra é também o diretor da Associação Brasileira de Produtores e Beneficiadores de Borracha (Abrabor).
O encontro, coordenado pelo pesquisador e articulador da Gerência de Relações Institucionais e Governamentais (GRIG), Jefferson Costa, reuniu pesquisadores e analistas da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas (SIRE), da Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento (SPD) e da Embrapa Cerrados, além do secretário de Inovação e Negócios (SIN), Sebastião Pedro da Silva Neto.
Val Guerra falou sobre a situação socioeconômica da cadeia produtiva nos últimos anos, bem como apresentou as demandas do setor para a Embrapa. Essa foi a terceira visita do representante à Empresa.
Segundo o presidente da Câmara, nos últimos anos a produção da borracha brasileira vem migrando da região Norte do país para o Sudeste e Centro-Oeste Brasileiro. É justamente na região Centro-Oeste, especificamente em Goianésia (GO), município com pouco mais de 60 mil habitantes, situado na região central do Estado, que se obtêm as maiores produtividades da borracha brasileira. São mais de 3 milhões de pés plantados por um grupo comercial que tem como carro-chefe o investimento na heveicultura. É também nessa região que a Embrapa Cerrados mantém seus experimentos com novos clones de seringueiras que estão prontos para serem lançados no mercado, resultado de mais de 10 anos de pesquisa.
Além do Centro-Oeste, a produção da borracha atualmente concentra-se no norte do Estado de São Paulo, na Zona da Mata Mineira, em algumas regiões do Paraná, Tocantins e em áreas já consideradas tradicionais da Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. O Brasil tem em média de produtividade de 1.276 quilos por hectare/ano, enquanto a média mundial é de 1.150 quilos por hectare/ano. No Estado de São Paulo, as fazendas de seringueiras que investem em tecnologias alcançam a média de 2 mil quilos por hectare/ano. No entanto, apesar do crescimento da produção brasileira, o país continua sendo responsável por menos de 2 de fornecimento de borracha no mundo. A Ásia detém 90 da produção, sendo que deste total, 70 está concentrada em dois países: Tailândia e Indonésia.
Segundo Val Guerra, o Brasil tem grande potencial de ampliar sua produção, principalmente para atender ao mercado interno, pois atualmente há seis grandes indústrias de produção de pneus no país que precisam importar o produto da Ásia, uma vez que a produção brasileira não atende o mercado interno. “Temos um potencial enorme para crescer só para atender a demanda interna. E ainda podemos exportar não a borracha, mas o pneu, portanto, um produto de valor agregado. O potencial nosso é fantástico”, destacou.
De acordo com o executivo, a perspectiva é, principalmente, por uma mitigação mundial da concentração da borracha na Ásia. Ele também falou sobre os riscos dessa concentração: a maior concentração da produção está em dois países localizados em uma região exposta a riscos climáticos e fitossanitários devido a uma monocultura concentrada, o que gera riscos geopolíticos, sociais e ambientais. “O mundo consome borracha e o Brasil é um dos poucos países do planeta com capacidade de mitigar os riscos de uma dependência mundial da produção asiática”, enfatizou Val Guerra.
Estratégias negociadas pela Embrapa
Durante a reunião com os pesquisadores e analistas da Embrapa, um dos encaminhamentos foi pela retomada da pesquisa socioeconômica da cadeia produtiva da borracha brasileira, iniciativa da Embrapa que aguarda recursos a serem liberados pelo Mapa no valor de R$ 300 mil.
O pesquisador e especialista em socieconomia, Pedro Abel, da SIRE, aproveitou a oportunidade para enfatizar a importância de se ampliar o escopo da pesquisa incluindo dados sobre a cadeia global de valor da borracha, aos moldes dos estudos que a Embrapa já vem realizando sobre a análise da cadeia global do cacau.
“A cadeia da borracha é uma cadeia global de valor que tem mais de 100 anos. A princípio, supomos que a competitividade da Ásia está na mão de obra barata, mas o problema também é geopolítico. Para o Brasil participar desse jogo é preciso discutir com uma amplitude maior, com países como o Canadá e Estados Unidos. É um bom momento para essa discussão, mas é preciso analisar como o Brasil se insere na cadeia global da borracha. E aí eu sugiro que o estudo seja ampliado, olhando a cadeia global de valor, a questão política. Nesse sentido, o Banco Mundial tem uma metodologia de análise de cadeia global de valor de produtos agropecuários. Com base nessa metodologia, já foram realizados estudos sobre a cadeia produtiva da carne e a Embrapa está trabalhando atualmente na análise da cadeia global do cacau”, explicou Abel.
Novos clones
O pesquisador da Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), Marcelo Fideles Braga, informou aos participantes sobre a previsão de lançamento de 15 clones de seringueiras desenvolvidos pela Embrapa já testados. São materiais com condições de garantir elevadas produtividades, além de serem resistentes a pragas e doenças, resultados de mais de 10 anos de pesquisa em uma área experimental localizada em Goianésia. A meta é disponibilizar os clones ao setor produtivo, em um processo de inovação aberta, onde são identificadas empresas parceiras para o desenvolvimento do produto.
Sobre a pesquisa socioeconômica da cadeia produtiva, Fideles explicou se tratar de um diagnóstico preliminar que irá permitir a rediscussão do sistema de produção, o que precisa melhorar e o que não precisa, e a traçar um primeiro documento que dará base para a Embrapa e parceiros elaborar um projeto mais ambicioso.
Para Val Guerra, o apoio da Embrapa será fundamental para a ampliação e a consolidação da cadeia produtiva da borracha. “Por conta de o sistema produtivo brasileiro ser um seringal comercial, temos condição de transferir muita tecnologia para o campo: combater as pragas e doenças na hora certa, analisar a qualidade do látex da seringueira, fazer adubações eficientes e direcionadas. Controlar, inclusive, a exploração da árvore baseado em diagnósticos, além de automatizar a coleta da borracha”, concluiu.
Ao finalizar a reunião, Jefferson Costa declarou que a Embrapa atualizará os estudos sócio-econômicos e dará todo o suporte tecnológico necessário para que a Câmara Setorial possa consolidar junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) a visão de que ampliar o cultivo da borracha natural no país é um ótimo negócio para o Brasil.
Saiba mais sobre a cadeia produtiva da borracha acessando aqui. Conheça também a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Borracha Natural.
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