Fonte: Embrapa
Agricultores e técnicos dos municípios de Urucará, São Sebastião do Uatumã, Manaquiri, Rio Preto da Eva, Presidente Figueiredo e Manaus, participaram do curso Produção de mudas de Guaranazeiro no Amazonas, nos dias 25 e 26 de abril, promovido pela Embrapa Amazônia Ocidental, em Manaus.
Participaram da capacitação 43 pessoas, que tiveram a oportunidade de conhecer sobre métodos de propagação do guaranazeiro, estrutura dos viveiros, controle de pragas e doenças nas plantas em viveiro e a legislação sobre produção de mudas.
O curso foi ministrado pelos pesquisadores da Embrapa Amazônia Ocidental Lucio Pereira dos Santos, André Luiz Atroch e Firmino do Nascimento Filho, e contou com participação do fiscal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Márcio Martins Pereira. Durante os dois dias, os participantes assistiram a aulas expositivas e tiveram experiências práticas no campo experimental da Embrapa.
A produção de mudas de guaranazeiro de boa qualidade é uma das principais necessidades para renovação dos cultivos. “Quando nós pensamos na renovação dos cultivos há necessidade de produção de mudas e no Amazonas só temos um viveirista credenciado”, comentou Pedro Chaves, gerente de produção vegetal do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Amazonas (Idam), que participou do curso, junto com outros técnicos do órgão de assistência técnica e extensão rural.
O técnico destaca entre as principais questões críticas para os produtores, a falta de manejo e de tratos culturais adequados na cultura do guaraná em virtude do custo de mão de obra, a dificuldade de acesso a viveiristas credenciados e a necessidade de remunerar o produtor rural com preço justo. Outro aspecto citado por Pedro é que para revitalizar os cultivos de guaranazeiro, os produtores precisam ter conhecimento dos manejos da cultura e dos tratos culturais para pragas e doenças, além de informações sobre métodos de propagação, entre outras orientações necessárias para boa condução do cultivo e que foram explicadas durante a capacitação. “Acreditamos que essa orientação vai estimular e despertar o interesse de produção para essa cultura que apresenta grande importância econômica para nossa região”, destacou o gerente do Idam.
O guaranazeiro pode ser propagado por sementes e por enraizamento de estacas. Ambos os métodos foram explicados aos participantes do curso. A Embrapa tem desenvolvido cultivares clonais de guaranazeiro resistentes às principais doenças e mais produtivas, e por isso tem recomendado esse método de propagação por estacas (clones), que permite reproduzir as características da planta matriz no cultivo.
Já as mudas formadas por sementes não reproduzem todas as características da planta mãe e geram plantios não uniformes, porém com maior variabilidade genética. Os plantios com cultivares clonais possuem menor variabilidade genética, porém podem ter maior produtividade se forem usadas as cultivares selecionadas.
O tempo é outro diferencial entre os métodos, pois a formação de mudas por sementes leva 12 meses e por estacas 7 meses. Já o custo de produção das mudas por estacas é mais caro se comparado à produção por sementes, pois exige maior investimento na infraestrutura de viveiros com sistema de irrigação do tipo nebulização e por aspersão.
A Embrapa já lançou 20 cultivares clonais resistentes às doenças e mais produtivas. Porém, muitos produtores ainda não adotam essas tecnologias. O desenvolvimento de cultivares multiplicadas por sementes tem sido uma demanda dos produtores, pela maior facilidade e menor custo na formação de mudas. Nos últimos anos a Embrapa tem realizado pesquisas para atender essa demanda dos produtores e desenvolveu uma cultivar de guaraná resistente e produtiva, que pode ser reproduzida por sementes. Essa cultivar está em fase final para ser liberada para a transferência de tecnologia e será lançada em breve.
Legislação – O fiscal do Ministério da Agricultura, Marcio Pereira, explicou que com base na legislação (Lei 10.711/2003 e decreto 5153/2004), tanto pessoa física ou pessoa jurídica que queira produzir e comercializar mudas e sementes, precisa estar inscrito no Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem). Para os interessados ele indica acessar o site do Ministério em www.agricultura.gov.br e procurar dentro do sistema Renasem a forma de credenciar o responsável técnico por esse viveiro e posteriormente fazer a inscrição como produtor de mudas ou de semente. O fiscal explica que a legislação isenta agricultores familiares, indígenas, assentados da reforma agrária e quilombolas que venham produzir sementes para uso próprio, mas dependendo da quantidade precisam informar ao Ministério a quantidade de sementes e mudas que venham a produzir.
Produção nacional – Atualmente o guaraná é cultivado principalmente nos estados do Amazonas e Bahia, que concentram 89 da produção nacional, mas há também produção no Mato Grosso, Acre, Rondônia e Pará. O pesquisador Andre Atroch cita que a Bahia não enfrenta a principal doença do guaranazeiro, a Antracnose, e esse é um dos motivos por sair na frente com 62 da produção nacional. No Amazonas, por sua vez, a doença é um dos principais fatores para baixa produtividade no Amazonas, associada à baixa adoção de tecnologias (manejo, adubação, cultivares selecionadas) e o estado responde por 27 da produção nacional.
Guaraná no AM – De acordo com dados do Idam, citados pelo gerente de produção vegetal Pedro Chaves, existem 4.140 agricultores que trabalham com a cultura do guaranazeiro no Amazonas, sendo os principais produtores os municípios de Maués, Urucará, Presidente Figueiredo, São Sebastião do Uatumã, Apuí, Coari e mais recentemente estão ingressando novos produtores em municípios do entorno de Manaus (com o Projeto de expansão da guaranaicultura coordenado pela Embrapa e parceiros). Com base em dados de 2017, ele cita que a produção foi de 968 toneladas em 8.151 hectares plantados.
O produtor e técnico Manoel Pedro Braga, que participa de cooperativa que produz guaraná orgânico no município de Urucará, disse que vai levar as informações do curso para sua cooperativa pois vai contribuir nos objetivos dos cooperados em renovar e ampliar os plantios que são antigos no município. “A gente quer atualizar informação, buscar conhecimento, e aumentar a produção”, informa o cooperado. Braga cita que o município tem cerca de 480 hectares de plantio de guaraná, e cada produtor tem em média 2 hectares e meio de cultivo, e aproximadamente 30 da área cultivada é de produção orgânica. Segundo Braga, têm sido utilizadas inclusive mudas de cultivares da Embrapa, principalmente a BRS Maués, no plantio orgânico. “A produção orgânica tem agregado um valor maior no preço do guaraná e tem trazido benefícios para os agricultores que passaram a melhorar seu nível de bem-estar e sua estrutura de produção”, comenta o técnico.
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